Mídia Periférica: na Bahia, na internet, no Brasil

Enderson Araújo, co-fundador do Mídia Periférica, fala sobre sua experiência à frente de uma rede de comunicação de periferia

Enderson Araújo em visita a São Sebastião, periferia de Brasília.

Em Brasília para participar de evento sobre Infância e Comunicação, da Andi, e para contribuir na elaboração do programa Câmara Ligada, da Câmara dos Deputados, Enderson Araújo, co-fundador do Mídia Periférica, também participou de atividades na periferia da Capital Federal. Seja em Sobradinho II, no encontro com jovens comunicadores, ou na primeira edição do Diálogos das Juventudes de Periferia, em Ceilândia, Enderson mostrou porque é uma das lideranças na comunicação comunitária, periférica e voltada para jovens. Tamanha é sua influência que foi reconhecido pelo Prêmio Laureate Brasil 2012 como um dos 10 jovens empreendedores sociais cujo trabalho tem impacto em suas comunidades. Conheça um pouco melhor esse soteropolitano cidadão do mundo na entrevista exclusiva concedida para o Favela Potente:

Qual foi a maior dificuldade que você encontrou ao fundar o Mídia Periférica?
A falta de jovens engajados com a causa, pois temos uma cultura de imediatismo nas nossas comunidades, que foi colocada em nossas mentes por nossos pais, que foram criados desta maneira. A sociedade impõe isso a nós: que devemos estudar, concluir o ensino médio e ir trabalhar. Porém, a falta de equipamentos também dificultou, mas não impediu que nós realizássemos várias atividades, pois temos duas coisas importantes para qualquer segmento: articulações e parcerias. Dentro da comunidade, buscamos sempre estar perto de pessoas e grupos que possam somar. No nosso caso, quem sempre esteve à nossa disposição, nos ajudando, foi um grupo chamado GACCSS – Grupo de Apoio às Causas Culturais e Sociais de Sussuarana. Esse pessoal nos dava suporte e dividiam as suas articulações conosco.

Você acha que os jovens de periferia de hoje estão mais preocupados em divulgar as ações de suas comunidades do que no passado?
Sim, isso por causa do acesso fácil às novas redes a partir das novas tecnologias. Hoje você pode fazer uma foto do celular e postar no Facebook ou Twitter, e essa informação gira o mundo. A internet possibilitou que ocorresse uma verdadeira democratização da comunicação, mas ainda temos que avançar mais.

De que maneira a comunicação feita por jovens de periferia e para jovens de periferia pode contribuir para uma mudança positiva na realidade desses jovens?
A mídia sensacionalista trata nossas comunidades de maneira adversa. Eu, por exemplo, já sofri e sofro preconceito geográfico por morar em uma comunidade onde a grande mídia trata como área de grande acúmulo de tráfico de drogas, porém eu não vejo isso. Sabemos que existe o tráfico, mas não da maneira que eles dizem, de forma sensacionalista. Existem os grupos culturais nas comunidades, então devemos dar voz a estas expressões nas comunidades para que sejamos vistos como uma comunidade pacificada, sem a necessidade do governo injetar a polícia aqui dentro, onde nós, moradores, fazemos as mudanças, por nós e para nós.

Muitos jovens de periferia não tem acesso à internet. Como o Mídia Periférica alcança esses jovens e como outros veículos de mídia de periferia pelo Brasil podem fazer isso?
Quando começamos, não tínhamos acesso à internet facilmente. Eu dependia de que meus amigos disponibilizassem uma hora para eu usar os computadores em suas casas, ou então acessava na lan house. Meu primeiro texto mesmo, foi esse daqui: http://correionago.ning.com/profiles/blogs/desabafo-campo-minado-por. Daí eu deslanchei, escrevendo sobre o que acontecia na minha comunidade, procurando mostrar a realidade sem “sensacionalizar”. Porém, a comunidade, assim como eu, não tinha acesso às ferramentas, então decidimos fazer jornais informativos para a comunidade, e essa informação alcançou toda a comunidade, porém tivemos que deixar de fazer os informativos por falta de recursos.

Como é sua relação com a mídia tradicional?
Não nos fechamos a diálogos com eles. Sempre estou conversando com jornalistas, sugerindo pautas, personagens, enfim, o trabalho do Mídia Periférica é referência.

É verdade que você trabalha em um Portal de Notícias?
Como eu disse antes, meu primeiro texto foi para o Correio Nagô, o veiculo de comunicação que trata sobre questões com recorte racial, referência no Brasil, onde hoje sou estagiário. Faço vídeos, pequenas reportagens sobre as comunidades de periferia. Também sou blogueiro no mais bem acessado portal de entretenimento do estado, onde o Blog do Mídia Periférica se encontra, o Ibahia.

Vocês ganharam um prêmio ano passado, conta mais sobre isso pra gente.
Foi o Prêmio Laureate Brasil 2012, que reconheceu 10 jovens empreendedores sociais que têm trabalho de impacto em suas comunidades. O Mídia Periférica representou a Bahia e foi um dos três a representar o nordeste.

Enderson Araújo recebe Prêmio Laureate Brasil 2012

Enderson Araújo recebe Prêmio Laureate Brasil 2012

Conheça melhor o Mídia Periférica:

Blog Midia Periférica no Ibahia – http://www.ibahia.com/a/blogs/midiaperiferica/
Página no Facebook – https://www.facebook.com/midia.periferica

Saiba mais sobre Enderson Araújo:
Correio Nagô – http://correionago.ning.com/profile/endersonaraujo
Twitter https://twitter.com/Enderson_midia

2 pensamentos sobre “Mídia Periférica: na Bahia, na internet, no Brasil

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