Equilibração

Ou as tentativas do Eu 

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*Vinicius Dias

Nascemos falados e não falantes. Sonhos e frustrações são despejados no recém nascido. Nascemos em uma família, um lar e somos falados pelos nossos genitores, por quem nos cria.

Somos o que desejam que sejamos. Não nascemos sujeitos, nascemos sujeitados e isso é estruturante em nossas vidas. Mas chega o dia que nos questionamos, mais cedo ou mais tarde a pergunta vem: sou isso? O que sou? Sou o que querem de mim ou o que eu quero ser? Nem sempre as perguntas brotam de forma clara e direta assim na mente, geralmente vem acompanhada de dúvidas, frustrações, manias de agradar, enfim, se manifestam no dia a dia causando conflito, sofrimento. Este conflito também é estruturante entre o que quero ser, o que penso que sou, o que querem que eu seja. Juntamente com isso valores foram construídos e constituídos pela sociedade em que vivemos: felicidade, deuses, bondade, perfeição… neste momento já esqueci o que sou…

É necessário uma equilibração entre o desejo e as normas sociais. Existe um “não eu” dentro do eu. E quem ele será?

Tudo que foi me dito como crença, alguns valores que hoje já não são meus, outros bastantes significativos são objetos de estudo pessoal, falam deste eu que sou eu, e deste “não eu” que também sou. O prazer é fonte de muitas respostas, pois a vida é baseada nesta busca. E qem será que busca o prazer? O “Não eu” ou o “eu”. Ambos carregam suas frustrações e isso as vezes “vaza” como uma necessidade de punição. As vezes o prazer e a culpa andam juntos. A quem darei mais força?

Não se tem cura para os problemas da alma, eles sempre ressurgem em uma fila de banco ou no morder de uma maçã. Os fatos mais insignificante s da vida nos rementem a questões estruturantes que merecem um debruçar diante delas. Talvez seja possível falar em “organização do conflito”. Talvez…

A busca por uma vida sem sentir dor parece algo atual inclusive para o mercado, e se posssível também uma vida com respostas prontas. Precisamos ser sinceros: isto está gerando muitas codificações sociais, mas poucas soluções para nossos problemas sociais.

Equilíbrio? Estamos longe! Mas podemos pensar em uma espécie de equilibração. Justifico: li a ideia a muito tempo atrás em um livro de Jung, em que o autor desenvolvia o seguinte pensamento: equilíbrio remete a ideia de constância, normalidade, um ponto estático. Já equilibração passa a ideia de constante busca, como se estive em uma corda bamba, ora a vara de sustentação deve pender para a esquerda, ora para a direita, e assim o equilibrista chega bem a outra parte do despenhadeiro.

Eu sei muito bem que a vida não tem nada de estática e a arte de viver me parece pedir a equilibração dos desejos internos (que são acompanhados por ilusão e fantasia) com a realidade externa (que se apresenta sem máscaras e disfarces).

 

*Vinicius Dias não se cansa de olhar pro ser humano e se espantar. É Psicólogo e teima em se envolver com pessoas complicadíssimas. Bêbados, lunáticos e pessoas que teimam em mudar o mundo são seus melhores amigos.

Um pensamento sobre “Equilibração

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